Claudio Ceregatti disse:
5/01/2010 às 11:01
Tua conta a pagar no Paraíso do Sul está cada vez maior, FG…Ainda bem que um certo churrasco de ovelha não é por tua conta, senão…Ainda assim, haja água com gás (Prata, garrafa de vidro) e café expresso (vietnamita, preferencialmente).
Curva 3, a Essência da Solidão.Interlagos tem personalidade, está além de uma simples faixa de asfalto, genial em seu traçado e nuances.No caso da famosa e ainda existente Curva 3, é a essência da solidão.Cada curva, cada reta, cada subida e descida desperta um sentimento diferente.Curvas 1 e 2, respeito.Retão, ansiedade.Curva 3, solidão.
Ainda é distante e solitária, nos dias de hoje cercada de favelas e prédios e meninos empinando pipa. De lá, toda Interlagos é longe.É o ponto mais distante do circuito, aquele lugar estranho e misterioso que fica além de tudo.Mesmo nos tempos em que andávamos livremente por toda a área, um lugar difícil de ficar e estar.Se assistíamos lá de cima do subidão, o início da retão, era uma bela caminhada de quase um quilometro até chegar naquela rampa maravilhosa da foto, a “tal curva que sumia”, ao fim de uma reta longa que te preparava ao desafio supremo.Um dia comentei com um amigo o medo que tinha – e ainda tenho – de montanha russa. Esse negócio estranho de estar sentado num carrinho sem saber quem é o projetista, se a manutenção é adequada, de ser passageiro que um troço escrôto que despenca lá de cima.Pois a sensação que sempre tive dessa curva, nas muitas e muitas andanças à pé pelo circuito era exatamente essa. Uma rampa descomunal, depois de uma descida enorme, em direção a uma outra curva (a quatro) em meio a barrancos (depois muros) e ao ladinho de um lago esperando os incautos…Tudo misturado: Velocidade, desafio, muro, barranco, asfalto, água e gás, muito gás no pedal da direita pedindo pra levantar…Muitas vezes sentei no topo dela, no ponto mais alto de sua inclinação e olhei para aquele retão a perder de vista e para a descida inclinada lá pra baixo… Assustadora visão panorâmica da ladeira até à pé, e me imaginava guiando aqueles carros maravilhosos depois de descer o retão…Mesmo moleque – e moleques sempre pensam que sabem tudo – essa curva me revirava o estômago só de olhar e me imaginar por ali, solitário em meio à solidão, distante de tudo que conhecia tão bem e acelerando rumo ao desconhecido limite.
Um dia, finalmente, saí pela pista para a primeira volta pelo circuito, a bordo de um Itamaraty bordô.
5/01/2010 às 11:01
Tua conta a pagar no Paraíso do Sul está cada vez maior, FG…Ainda bem que um certo churrasco de ovelha não é por tua conta, senão…Ainda assim, haja água com gás (Prata, garrafa de vidro) e café expresso (vietnamita, preferencialmente).
Curva 3, a Essência da Solidão.Interlagos tem personalidade, está além de uma simples faixa de asfalto, genial em seu traçado e nuances.No caso da famosa e ainda existente Curva 3, é a essência da solidão.Cada curva, cada reta, cada subida e descida desperta um sentimento diferente.Curvas 1 e 2, respeito.Retão, ansiedade.Curva 3, solidão.
Ainda é distante e solitária, nos dias de hoje cercada de favelas e prédios e meninos empinando pipa. De lá, toda Interlagos é longe.É o ponto mais distante do circuito, aquele lugar estranho e misterioso que fica além de tudo.Mesmo nos tempos em que andávamos livremente por toda a área, um lugar difícil de ficar e estar.Se assistíamos lá de cima do subidão, o início da retão, era uma bela caminhada de quase um quilometro até chegar naquela rampa maravilhosa da foto, a “tal curva que sumia”, ao fim de uma reta longa que te preparava ao desafio supremo.Um dia comentei com um amigo o medo que tinha – e ainda tenho – de montanha russa. Esse negócio estranho de estar sentado num carrinho sem saber quem é o projetista, se a manutenção é adequada, de ser passageiro que um troço escrôto que despenca lá de cima.Pois a sensação que sempre tive dessa curva, nas muitas e muitas andanças à pé pelo circuito era exatamente essa. Uma rampa descomunal, depois de uma descida enorme, em direção a uma outra curva (a quatro) em meio a barrancos (depois muros) e ao ladinho de um lago esperando os incautos…Tudo misturado: Velocidade, desafio, muro, barranco, asfalto, água e gás, muito gás no pedal da direita pedindo pra levantar…Muitas vezes sentei no topo dela, no ponto mais alto de sua inclinação e olhei para aquele retão a perder de vista e para a descida inclinada lá pra baixo… Assustadora visão panorâmica da ladeira até à pé, e me imaginava guiando aqueles carros maravilhosos depois de descer o retão…Mesmo moleque – e moleques sempre pensam que sabem tudo – essa curva me revirava o estômago só de olhar e me imaginar por ali, solitário em meio à solidão, distante de tudo que conhecia tão bem e acelerando rumo ao desconhecido limite.
Um dia, finalmente, saí pela pista para a primeira volta pelo circuito, a bordo de um Itamaraty bordô.
Esse “causo” de minha primeira volta (incompleta) está lá no http://interlagosantigo1.blogspot.com/
Quando cheguei na três e senti o quão inclinada era, assustei. Na verdade, já descia o retão assutado com o que sabia que viria.Tão pra dentro, tão pronunciado era o relevê que a impressão era que o carro ia cair lá de cima, impressionante sensação de descontrole.As fotos, por melhores que sejam não ilustram o respeito obsequioso que se tinha por ela, e nem o silencio que a distancia proporcionava.Essa mistura mexia com o estomago da gente, cada vez que se descia a reta e ela se aproximava mais e mais…
Detonei meu Opala por ali, metros à direita da foto do DKW.Besteira por tê-la desrespeitado, burrice de garoto inexperiente misturada com pista molhada, pneus frios e nenhuma intimidade com a própria…Perdi o carro do meio para o fim da três, não arrumei a traseira na quatro como devia, estampei o guard-rail interno da quatro. Só não mergulhei no lago pois dei forte no guard-rail interno. Se fosse na época dessas fotos maravilhosas, além dos motores de DKW ia ter um Opala perdido lá no fundo…
Assisti dezenas de provas daí, mais para a frente um pouco da foto 1.Algumas de F1, inclusive. Treinos, testes de pneus e corridas.A forma como José Carlos Pace apontava era impressionante. Na freada, de frente, a Brabham balançava nitidamente a traseira, os pneus enormes se mexiam. Ele lançava o carro para dentro com uma tal competência e segurança que parecia até displicência. Verdadeira humilhação a mim e a dezenas de amigos que pensavam ser pilotos.
Detonei meu Opala por ali, metros à direita da foto do DKW.Besteira por tê-la desrespeitado, burrice de garoto inexperiente misturada com pista molhada, pneus frios e nenhuma intimidade com a própria…Perdi o carro do meio para o fim da três, não arrumei a traseira na quatro como devia, estampei o guard-rail interno da quatro. Só não mergulhei no lago pois dei forte no guard-rail interno. Se fosse na época dessas fotos maravilhosas, além dos motores de DKW ia ter um Opala perdido lá no fundo…
Assisti dezenas de provas daí, mais para a frente um pouco da foto 1.Algumas de F1, inclusive. Treinos, testes de pneus e corridas.A forma como José Carlos Pace apontava era impressionante. Na freada, de frente, a Brabham balançava nitidamente a traseira, os pneus enormes se mexiam. Ele lançava o carro para dentro com uma tal competência e segurança que parecia até displicência. Verdadeira humilhação a mim e a dezenas de amigos que pensavam ser pilotos.
O carro contornava toda ela indócil, meio desequilibrado, meio sob controle em direção à curva 4, que dá pra ver bem, de baixo, na foto do DKW.Hoje há alguma semelhança desse trecho mágico com o circuito atual, na primeira e segunda da descida do lago.Mas apenas uma leve lembrança devido à sequência e descida posterior com uma curva mais aberta.Hoje a gente “mata” o carro na freada, aponta e crava, pois a curva na sequência não desafia.A sequencia original, no entanto, exigia muito mais do que isso.A aproximação era muitíssimo mais rápida, o ponto de maior velocidade do circuito.Não se “montava no freio para apontar”.
Freava-se sim, mas apenas para ter a velocidade exata da aproximação.Depois, num movimento preciso (nada de ficar mexendo no volante, uma curva só e pé embaixo) fazia-se a tomada em descida, com os cujones na garganta, numa velocidade estonteante e o carro escorregando nas quatro, coisa linda de fazer – que fiz uma vez só, o incompetente. Tão bem que errei a segunda perna e deu no que deu…Na verdade a velocidade, a descida, o releve faziam com que você sempre fosse meio piloto, meio passageiro.
O carro estava sempre além do limite natural, e uma quebra, um erro bobo, uma marcadinha era panca na certa, e bem rápido…
Vi alguns Gênios da Raça contornarem essa curva maravilhosa das formas mais diversas.O velho ditado: Não tem jeito certo, cada um tem a receita que dá. Se não dá, estampa…Gilles Villeneuve deixava a dianteira escapar tanto na primeira metade que pensávamos que morreria na nossa frente, do jeito que a frente ia embora e depois a traseira do meio para a frente.
Vi alguns Gênios da Raça contornarem essa curva maravilhosa das formas mais diversas.O velho ditado: Não tem jeito certo, cada um tem a receita que dá. Se não dá, estampa…Gilles Villeneuve deixava a dianteira escapar tanto na primeira metade que pensávamos que morreria na nossa frente, do jeito que a frente ia embora e depois a traseira do meio para a frente.
Balé clássico, moderno, tudo junto numa curva só.Ronnie Peterson de Formula 2 escorregava tanto de lado que achávamos que o show era só para nós, pendurados ali na grade, derretendo no sol e tentando entender a mágica do controle daquele sueco branquelo e bonitinho, com uma mulher bem mais que bonitinha… Uma ignorância as traseiradas, uma indecência o controle e descaso como contornava a sequência todinha.Keke Rosberg de carro asa “achou” um caminho inimaginável, fazendo o carro escorregar de forma que ninguém fazia, andando pelo caminho mais longo e sujo, justamente a parte de cima do releve.Emerson Fittipaldi era de uma precisão irritante, de uma tranqüilidade e domínio impressionantes, apontando o carro e mexendo no volante uma única vez, e depois só na saída da curva 4 de novo… Tinha um carro excepcional, é certo, mas ninguém é duas vezes campeão e duas vezes vice no meio de feras desse naipe de graça, e num tempo que morria piloto de F1 mais do que piloto de caça.E muitos e muitos outros vi por ali.Paulão Gomes barbarizando, Alfredo Guaraná Menezes detonando, Nelson Piquet arrasando, Chico Lameirão de Formula Ford e Super Vê matando, Artur Bragantini no molhado, nem te conto…A lista é enorme, os Homens que a contornaram também.É um lugar que ainda visito, mas decido de repente, em meio às minhas mentiras da madrugada quanto repentinamente não contorno o Esse do Senna e desço a 1, a 2, o retão e aponto na 3…Faço isso assim justamente para ver se flagro os fantasmas da velocidade por ali. Mas é longe, me vêem antes e aí…Aqueles mesmos fantasmas que vejo em meio às minhas alucinações, os tais vultos fugidios e tingidos de azul da lua.Estão por toda parte, é certo.
O céu dos pilotos é Interlagos.Mas é lá que, tenho certeza, se concentram e se encontram.O ponto mais veloz, a curva mais desafiadora, o descontrole mais estonteante.E a essência da solidão.Não poderiam estar em lugar mais adequado.A curva três está lá, ainda. Inteirinha como sempre esteve.É o Monumento maior aos homens que sempre quisemos ser. E jamais será demolida.Os Deuses da Velocidade nela habitam. Impregnada até os dias de hoje com a vibração mágica dos Pilotos que a dominaram.
CEregatti assim você nos mata!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Linda foto! Ai Fabio era o chamado "Bacião", com 9 anos vi sendo resgatado um piloto de Ferrari que havia voado na "Três". É isso ai Claudio!
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